Entrevista com Ada Seibel

Como se conheceram?
R: Nós nos conhecemos em 1950, nessa época ele trabalhava na Rádio Nacional como músico solista e trabalhava também na boate Monte Carlo na Gávea do Carlos Machado. Chiquinho fazia parte do conjunto que tocava na boate e foi lá que nos conhecemos e começamos a namorar. Casamos em 1953. Fui casada com ele durante 24 anos, tivemos 2 filhos que são a paixão da minha vida: Luiz Fernando e Carlos Felipe.

Como era a carreira dele na época em que se conheceram?
R: Além de músico da Rádio Nacional, passava a maior parte do tempo gravando em estúdios. Ele gravou e participou de gravações de praticamente todos os cantores brasileiros. Fazia também suas próprias gravações com os mais variados nomes. Fundou o “Trio Surdina” composto por Garoto no violão, Fafá Lemos no violino e Chiquinho no acordeon. O Trio fez sucesso durante muitos anos, eles tinham um programa à noite (23 horas). Era um trio fantástico, muito bom, muito moderno para a época.

Como surgiu “São Paulo quatrocentão"?
R: O maior sucesso dele foi a música dobrado “São Paulo quatrocentão” que compôs juntamente com o Garoto. Os dois brincando e conversando, compuseram em pouco tempo, na nossa casa. O Garoto era paulista, era ano do quarto centenário de São Paulo e o Garoto queria homenagear a cidade. O Chico era gaúcho e por isso tinha uma experiência muito grande de compor dobrados. Então os dois sentaram e começaram a compor o “São Paulo quatrocentão” que resultou num sucesso estrondoso e ficou em 1º lugar na parada de sucesso na Rádio Nacional durante um ano inteiro, sem interrupção.
Todo sábado, num programa que tinha de auditório, ia o Chico tocar “São Paulo quatrocentão” com Garoto. Já não podiam nem viajar, pois tinham aquele compromisso.

Que outras lembranças ficaram do Chiquinho músico?
R: Uma das façanhas dele é que era o músico brasileiro que mais tinha horas de gravações dentro de estúdio. Gravou com muitos artistas.
Outra que me lembro foi a formação do conjunto “Velhinhos Transviados” que foi uma brincadeira com Zé Menezes no violão e outros artistas, que também fez muito sucesso.
Além disso, ganhou vários prêmios Sharp como melhor disco, melhor arranjador e melhor música instrumental e outros como solista.

Como foi ser esposa de um músico tão importante?
R: Bem, viajamos muito. Logo que casamos fomos pra Argentina, onde fez uma temporada com Carmélia Alves. Depois, nos anos 60, fomos para Europa com a segunda caravana de música brasileira para divulgar lá fora a nossa música. Dela participaram também Joraci Camargo, Radamés Gnattali, Edu da Gaita enfim, nossos melhores instrumentistas na época. Tocaram em universidades de Portugal, França, Itália, Alemanha, Inglaterra e outros países pra divulgar os ritmos musicais brasileiros.
Era muito interessante conviver com o Chico. A gente viajava muito, participava bastante da vida intelectual e política do Brasil. Chegamos a ter contato com Getúlio Vargas e Jucelino Kubitschek.

E sobre o Chiquinho, alguma peculiaridade?
R: O Chico era um flamenguista doente, roxo, de chegar a ponto de ir para o Maracanã de smoking antes de ir tocar num baile no fim de semana. Todo mundo já o conhecia e dizia “lá vem o maestro Chiquinho pra ver o Flamengo”, era muito engraçado.
No tempo em que acompanhava Carmélia Alves, faziam apresentações em circo e isso era também muito engraçado. Íamos para o subúrbio à noite junto com o Raul de Barros.
Foi uma vida interessante e rica. Foi um músico espetacular, ele respirava música 24 horas por dia, era impressionante a musicalidade que ele tinha, a sensibilidade dele, a maneira dele tocar. A gente conhecia de longe o toque diferente dele no acordeom. Ele jogava todo um sentimento nas teclas do acordeom, era um grande instrumentista.

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